“Eu não consigo mais dormir porque meu nível de ansiedade está fora de controle”, relatou um dos analistas do Goldman Sachs, o maior banco de investimento de Wall Street.
Nessa semana, um grupo de analistas no primeiro ano de trabalho no banco organizou uma pesquisa com 13 colegas de trabalho e organizaram uma apresentação com o nome de “Pesquisa de Condições de Trabalho”.
Eles revelaram que um analista júnior leva uma rotina de trabalho insustentável. Em média, eles vão dormir às 3 da manhã, têm 5 horas de sono e trabalham 95 horas por semana.
Segundo a apresentação, as condições de trabalho têm afetado negativamente a saúde física e mental dos profissionais. Ao avaliar de 1 a 10 os dois aspectos de saúde antes e depois de começar o serviço no banco, os respondentes viram uma queda de 6,7 pontos na saúde física e de 6 pontos na mental.
No Brasil, como comparação, a semana de trabalho prevista na legislação brasileira é de 44 horas por semana.
Segundo o Financial Times, um porta-voz do banco disse que os participantes da pesquisa foram “autosselecionados” e que a empresa está trabalhando com o grupo para endereçar suas preocupações. O representante disse que eles não estão em apuros, pois levantaram pontos válidos.
Os dados são relativos ao primeiro ano de trabalho desses analistas, que se passou durante a pandemia e o trabalho remoto. Para muitos, o home office significou o fim da divisão entre as horas de trabalho e o tempo dedicado à vida pessoal.
Uma análise de pesquisadores da Harvard Business School e da Universidade de Nova York com com 3,1 milhões de pessoas mostrou que o dia de trabalho ficou em média 48 minutos mais longo no mundo todo.
Na pesquisa, todos os respondentes disseram que as horas de trabalho afetaram o relacionamento com familiares e amigos, 77% acreditam ter sofrido assédio no ambiente de trabalho e 75% procuraram ou consideraram procurar terapia ou outro serviço de saúde mental.
Ao dar uma nota para sua vida pessoal de um a 10, a nota média entre os analistas foi de um.
Ao final do documento, os profissionais apresentaram um plano de ação: respeito ao máximo de 80 horas de trabalho por semana, agendar reuniões com clientes considerando uma semana de preparação e que não deveria ser esperado que eles trabalhem após às 9 horas da sexta e ao longo do sábado.
Longas horas, poucos resultados
Embora bilionários como Elon Musk e Jack Ma já tenham defendido as longas horas de trabalho, pesquisas mostram os altos danos e a baixa efetividade dos expedientes intermináveis.
Um estudo da Universidade de Columbia com 8 mil profissionais mostrou que os participantes sedentários por mais de 13 horas por dia tinham o dobro de chance de morrer prematuramente do que aqueles inativos por 11 horas e meia.
Outro estudo, da University College London com 85 mil trabalhadores, mostrou uma correlação entre carga pesada de trabalho e problemas cardiovasculares.
Por outro lado, as horas extras que estão custando a saúde do trabalhador não dão resultado: o professor de economia da Universidade de Stanford, John Pencavel, descobriu que quem trabalha 70 horas por semana entrega o mesmo trabalho que quem dedicou 55 horas de trabalho.
Ao analisar o trabalho nas fábricas de munição em 1915 e 1916, Pencavel calculou que a produtividade por hora cai quando a pessoa começa a trabalhar 50 horas por semana.
Além disso, ele associa expedientes com mais de 12 horas com a alta probabilidade de cometer erros, o que causaria perdas maiores.